domingo, dezembro 12, 2004

Caras

Sempre fui um rapaz muito introvertido (ainda hoje continuo a ser embora não tanto) e sempre que andava na rua, principalmente sozinho, nunca olhava em frente, fazia sempre questão de olhar para baixo, talvez na esperança de passar despercebido. Via uma por uma as pedras do chão, apenas levantando o olhar para ver se não me enganava no caminho. Não sei bem porquê...ou talvez até saiba.
Hoje em dia isso já não se mantém. Apesar de continuar a tentar passar despercebido por entre a multidão, sou incapaz de parar quieto com o olhar enquanto ele mergulha em frente na multidão e no espaço que me rodeia. Agora sou incapaz de andar na rua e não olhar para todas as coisas, principalmente todas as caras, todos os olhares, sorrisos, ares indiferentes, sérios, tristes...sinto esta enorme necessidade de absorver a diversidade que me rodeia e que me atinge a cada movimento dos olhos. Sinto um impulso para disparar o olhar em todas as direcções possíveis, ver o mais que consiga, deparar-me com tudo, quer seja uma montra, uma pedra, relva, quer seja a expressão na face das pessoas que me indica que repararam no meu olhar, ou na indiferença e mesmo ignorância de que por breves segundos aquele rosto foi atingido pela minha curiosidade e vontade indomável de me encher de estímulos reais incessantemente.
Quero ver vida, quero ver gente, quer ver tudo o que me rodeia, embora saiba que apesar dos mues esforços jamais conseguirei contemplar na minha mente, ainda que por breves segundos, todas as caras, todas as coisas que se atravessam no raio do meu olhar, ou que são alvo acidental da sede furtiva do meu olhar.
Por isso hoje gosto tanto de olhar em frente quando ando na rua. Ou melhor, olhar em todas as direcções para atingir e deixar-me atingir pelo magnífico daquilo que nos rodeia.
Abrações Grandões

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