quarta-feira, dezembro 15, 2004

Despertares

O cheiro a vida inunda a consciência assim que acordamos. Os nossos olhos entreabrem-se para beber o que os rodeia. A sede de uma noite anseia saciedade. O corpo estremece enquanto respira um novo ar, enquanto se liberta das correias da preguiça. O calor libertado funde-se com o que é absorvido. A luz irradia a presença desta vida que desperta, que reabre ao Mundo de fora depois de uma peregrinação intensa ao seu Mundo particular.
O despertar aos poucos ensopa cada centímetro de pele, enquanto o corpo serpenteia para se livrar da pele entorpecida. Um trilho perdura no ar, vapores flutuam largados a cada bocejo, evaporados pelos poros na vontade indomável de limpar o corpo desta encenação de morte.
Por instantes o corpo é uno com o que o circunda. Concentra-se em si próprio, nas suas necessidades, fomes, sedes, desejos. Por instantes o corpo assume o lugar do pedestal, rouba a tenção, faz-se mais importante e notado que tudo mais. Quer-se fazer visto, quer fazer notar a sua relevância, quer dar conta do poder dos sentidos, mas sem esquecer a sua inevitável independência da alma que os absorve, da alma que lhes dá vida.
O que somos nós, senão um esforço de corpo e espírito que se dá vida mutuamente, e que nos privilegia com o seu empenho conjunto?
Abrações Grandões

0 Comentários:

Enviar um comentário

<< Home