sexta-feira, janeiro 07, 2005

História parva : "O Cruzeiro"

O cruzeiro era bestial. Ele estava contente, tinha acabado de marcar um encontro para a noite. A festa de Boas vindas ao Verão era a ocasião especial para se aprumar todo e mostrar-se bem bonito...ou melhor, mostrar-se. O que é certo é que a rapariga com quem tinha combinado encontro era uma amiga de um amigo, que tinha sugerido o seu nome como par para a festa. Tinha-a visto durante a tarde, mas a rapariga mal lhe falou, provavelmente porque se tinha assustado com o rosto branco e cadavérico dele...logo tinha que ter calhado quando ele estava com um escaldão enorme e tinha besuntado de creme todos os poros de pele da cara, e mesmo assim muita sorte tinha tido ela por não o ter visto na altura em que tinha duas palhinhas enfiadas no nariz para respirar, tudo porque tinha abusado na quantidade de creme e enfiara duas "nozes" de creme para dentro das narinas e cada vez que mexia iam mais para dentro e mais difícil era para ele respirar. Passavam uns míseros cinco minutos desde que ele acabara de se besuntar novamente depois de ter lavado os cinco centímetros de espessura de creme da primeira aplicação. Ela tinha aparecido resplandecente, a brilhar...uma beleza ofuscante, literalmente. Mesmo com os óculos ele tinha-se encandeado com a luz precisamente porque ela apareceu do lado do Sol, e só nós últimos segundos antes de ela se ir embora é que ele teve um vislumbre rápido da cara dela. Era uma mulher, isso podia ele afirmar com certeza, o resto logo se via...ao menos era um par. Mesmo que ela tivesse ficado impressionada com o aspecto esbranquiçado dele e com o facto de ele ter grunhido em vez de falar (uma grainha de uva da salada de frutas tinha ficado atravancada na garganta precisamente no momento que ela aparecera e ele metera uma uva à boca).
Ia agora lampeiro para o quarto, com o seu andar de gingão, de perna aberta. A perna aberta até era mais por causa do escaldão nas virilhas e nos...tomates. Aquela tarde na área de nudismo a ver se engatava alguma moça (embora descobrisse logo que não havia moças...só senhoras com peitos empinadinhos...na zona do umbigo, sempre dispostas a mostrar a dentadura com um sorriso) tinha-lhe rendido uma boa soneca, toda passada de barriga para cima em pleno meio-dia...mas também um escaldão na palmeira e nos cocos ao ponto de ter de fazer pontaria à sanita sem mãos, quando de pé, e de tentar molhar a fruta com a água do autoclismo para aliviar, quando sentado. Mas não se podia dar por insatisfeito já que o incidente lhe tinha rendido alguns olhares atrevidos direccionados às suas calças na zona das virilhas...mas também pudera, com um pacote de algodão enfiado nas cuecas... Já estava a rever a sua roupa para decidir o que vestiria, afinal só faltavam três horas, mas tendo em conta o banho, jantar e a hora e meia de desconto para vestir a parte de baixo(uma hora para as cuecas e meia para as calças propriamente ditas, mais precisamente) estava mesmo à risca. Esfregava já as mãos de contentamento...e rezava também para reconhecer o seu par.
Triunfante, entrou no quarto e pôs logo a água do banho a correr. Continuava a fingir que assobiava a música do Barco do Amor (desde que saira de perto da piscina soprava sem sucesso tentando assobiar, só conseguindo uns salpicos de baba que o obrigaram a limpar o queixo com a camisa...o que se revelou trágico para a camisa porque ficou besuntada de creme). Pondo-se em cuecas tentou imitar Tom Cruise quando este dança num dos seus primeiros filmes (ele não se lembrava qual, ne sequer se o tinha visto, muito menos da música que ele dançava). Abanando o máximo que conseguia o rabo em frente ao espelho, cantava uma saraivada de palavras numa língua desconhecida seguindo um ritmo indefinido. Quem estivesse a observar a cena de longe julgaria que se tratava de um senhor tentando reatar o momento de infância em que começava a tentar dar os primeiros passos ainda de fralda (o enchumaço das cuecas era deveras assustador).
Uma vez enchida a banheira, começou a tirar a roupa e meteu-se na banheira, não sem antes desviar o monte de algodão em frente da banheira que caíra das cuecas. Sentindo-a um pouco quente nos pés, ignorou pensando que era só impressão e, desejoso de se lavar e ficar bem cheiroso para a festa, mergulhou convictamente no caldo que estava na banheira. Escusado será dizer que abriu a goela e soltou o mais alto grito que alguma vez pregara, seguido de um rol de impropérios que logo chamaram a atenção dos vizinhos que correram a bater à sua porta. Entretanto ele debatia-se debruçado de costas na banheira, alguns centímetros acima do nível da água, soprando na direcção das virilhas, onde sentia arder um fogo (como) numa tocha...

É parvo mas olha...to be continued
Abrações Grandões

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