quarta-feira, março 09, 2005

Quem espera...sempre alcança?

Ele levantou a cara do meio das mão e virou-se para contemplar o tecto. As lágrimas já tinham secado, mas tinham deixado um vestígio do seu sal que arrepanhava a pele imediatamente por baixo dos olhos, e desenhava o percurso de todas elas pela face abaixo até ao queixo. Milhões de pensamentos acorriam em catadupa à sua mente, era impossível agarrar-se a um...ainda para mais sendo tantos deles recorrentes. Contemplava em silêncio, por entre o rumor da rua, o branco lá em cima, conseguindo até diferenciar um pensamento que reflectia um desejo remoto de que aquele tecto desabasse em cima dele...acabavam os problemas todos. Estava deitado na cama, e pela milionésima vez em poucos dias revolvia a vida toda num segundo, accionando a tristeza que o corroía, sem ele saber, cada vez mais surgindo mais forte de todas as vezes que surgia a flutuar à tona das suas ideias.
Não podia de todo negar os momentos de felicidade e alegria que tinha vivido até aí, e só pensar nesses momentos lhe traziam ainda umas réstias desses sentimentos vividos. No entanto, era grande o vazio onde muitas vezes caía a realidade e alegria momentânea. Depressa aquele buraco negro o apanhava desprevenido e sugava toda a vitalidade e réstia de esperança cravada no coração. Depressa sentia a corrosão da tristeza enquanto corria nas veias, e o borbulhar das lágrimas nos olhos fervia...
Procurara...tantos encontravam...menos ele...sentia-se menos que os outros e por muito que se tentasse resignar não o conseguia fazer pacificamente...rendia-se à incerteza de uma vida sem o que procurava e à inevitabilidade da frustração e angústia permanente que antevia para o resto da sua vida. Receava se alguma vez o fel vertido inadvertidamente pelo coração acabasse por substituir o sangue das veias, em vez de ser expelido diluído nas lágrimas. Perguntava-se a si próprio se os senntimentos resistiriam ou se acabaria por perdê-los, tornando-se frio, vazio.
Sentia que o momento propício à descoberta estava a esvair-se e os últimos grãos de areia na ampulheta estavam prestes a escorregar...temia fortemente se o sentido da sua vida escorregaria com elas...e então voltava a chorar.
Procurara...ou melhor, procurava ainda...deixava-se procurar...mas sentia-se como um barco à deriva que anseia por terra...mas a esperança de que a terra viria já quase desaparecera, mais tarde ou mais cedo afundar-se-ia no eterno mar, e nele viveria para sempre.
E procurava naquela parede, no branco da tinta algo que o distraísse, ou mesmo, que sabe, algo que lhe desse a resposta. Mil vezes pensara na frase Quem espera sempre alcança...já tinha esperado tanto...tantos outros haviam alcançado...menos ele. Não tinha sido contemplado com a possibilidade de alcançar...seria de admirar se todos alcançassem...mas ele não era capaz de lidar com isso e temia nunca vir a ser...por isso continuou a esperar...também, enquanto vivesse sabia mais nada restar-lhe a fazer...
Abrações Grandões
P.S. não me responsabilizo pela qualidade do post, é só porque já me sentia mal por não escrever há muito tempo

1 Comentários:

Comentários Hoje At 7:39 da tarde, Blogger VladDark comentou...

Uma das coisas boas está aqui:

http://cosmos.oninetspeed.pt/vladdark/Blog/12-Temporary%20Peace.mp3

 

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